terça-feira, 6 de janeiro de 2009

Quando tudo passa, as idéias se desmancham num papel sem graça e sem sabor, chega-se então a conclusão de que nada foi realidade. A paixão que rondava a minha cabeça não passava de um sopro inofensivo retirado de uma súbita apatia. Isto deixa-me congeladamente triste e sem arma alguma. Mas sei que isto é o que eu deveria sentir já que tantas vezes rasgaram-me, transformaram-me em um pó completamente inútil e sem sentimentos. A vida continua, eu aqui, você com suas sujeiras e a gente com o nada. Eu tive que viver tudo em linhas porque a realidade não permite que as minhas mais loucas fantasias viva. Não estou ferida hoje! Acho que não fui. A vida em si que vem machucando minha mente. Mas como se me pareceu o tempo todo tão real? Eu não sei mais: estou entre as entrelinhas e o que é dito sem cerimônias. Confundo o que realmente existe com aquilo que circula só dentro dos meus sonhos cegos e flamejantes. Mas se eles estão aqui, de alguma forma eles existem! Sinceramente, é muita confusão... Não tenho medo dela - até a aprecio... E enlouquecer não me parece tão ruim. É só mais um refúgio para minha alma, uma fuga desta coisa chamada mundo...

" Prestes a viajar..."

~Ê saudade!

segunda-feira, 5 de janeiro de 2009


Meu Sr. O coração da mulher é uma cousa complicada. Não se pode estudar e definir de uma só maneira, mas no ponto da sua consulta, eu creio que não erro, com esta exposição da minha experiência: Há corações fechados que são como portas de que se perde a chave. Ninguém lhes entra, sem que um milagre da sorte ensine como. Então, é a imensa ventura. Há corações de uma só porta, como as casas seguras, onde a gente entra, sem custo instala-se, faz família dentro, e aí chega a netos tranqüilamente. Há corações de duas portas, que dão entrada a um afeto pela frente, diante da sociedade; a outro afeto pelos fundos, diante da indiscrição da Candinha e seus filhos. O segredo destes amores de acordo é possível; mas às vezes, mesmo sem segredo eles são felizes. Há corações hotéis, onde todo mundo entra, escandalosamente, quase simultaneamente, pagando à parte o seu cômodo, sem grande intriga, nem ciúmes. Há corações bodegas, que é um horror...
Mas, há uma espécie curiosa de corações, um produto das sociedades desenvolvidas, para a qual chamo a sua atenção: é o coração volante, e o coração rodante, que aceita o amor, mas que não fixa, daqui para ali, a tanto por hora, a tanto por mês, o coração tílbure de praça, que aceita o passageiro em qualaquer canto, que dobra a esquina, que corre, que pára, que vem, que desaparece, que passa pela gente às vezes, juntinho, sem que se possa ver quem vai dentro...

domingo, 4 de janeiro de 2009

"...escrevia e apagava, escrevia e apagava, deparando-me ironicamente com o problema constante da minha vida; a inconstância. [...] queria que viver fosse que nem escrever livros. Queria poder escrever e jogar fora o rascunho quando não gostasse do resultado. [...] Vivi minha vida rodeada de fantasmas arrastando suas correntes pelos meus corredores, me arrastando como correntes pelos seus corredores. [...] Eu berrava por uma dor com sobrenome de prazer. Drama era essência da minha alma adolescente. Eu sentia tudo de maneira densa demais, pois procurava sentir - inconscientemente! [...] - um corpo sem uma voz, uma pessoa sem um reflexo. [...] Sempre gostei de andar de salto agulha na beira do penhasco, saboreando o perigo e sentindo o vento borrar minha maquiagem e bagunçar meus cabelos. Costumava correr na beirada, sabendo que um passo significaria o fim. Corria com uma garrafa de vodca das mais baratas na mão e um cigarro torto e mal aceso entre os dedos amarelos, cambaleando entre a vida e a morte, achando que ali estava a prova de que na vida havia algum sentido. Como cortar para ver o sangue escorrer, como roubar para correr o risco de ser pego, como mentir para driblar os outros, viver à beira do penhasco causava a maior das adrenalinas. Eu fui uma amante fiel do perigo. Nunca escondi os gemidos de prazer que me proporcionava nas profundezas dos meus lençóis. Era tudo tão excitante, era tudo tão ilusório...[...]
Eu aprendi, durante a minha jornada, que a única maneira de sobreviver ao Inferno é continuar passando por ele."