segunda-feira, 5 de janeiro de 2009


Meu Sr. O coração da mulher é uma cousa complicada. Não se pode estudar e definir de uma só maneira, mas no ponto da sua consulta, eu creio que não erro, com esta exposição da minha experiência: Há corações fechados que são como portas de que se perde a chave. Ninguém lhes entra, sem que um milagre da sorte ensine como. Então, é a imensa ventura. Há corações de uma só porta, como as casas seguras, onde a gente entra, sem custo instala-se, faz família dentro, e aí chega a netos tranqüilamente. Há corações de duas portas, que dão entrada a um afeto pela frente, diante da sociedade; a outro afeto pelos fundos, diante da indiscrição da Candinha e seus filhos. O segredo destes amores de acordo é possível; mas às vezes, mesmo sem segredo eles são felizes. Há corações hotéis, onde todo mundo entra, escandalosamente, quase simultaneamente, pagando à parte o seu cômodo, sem grande intriga, nem ciúmes. Há corações bodegas, que é um horror...
Mas, há uma espécie curiosa de corações, um produto das sociedades desenvolvidas, para a qual chamo a sua atenção: é o coração volante, e o coração rodante, que aceita o amor, mas que não fixa, daqui para ali, a tanto por hora, a tanto por mês, o coração tílbure de praça, que aceita o passageiro em qualaquer canto, que dobra a esquina, que corre, que pára, que vem, que desaparece, que passa pela gente às vezes, juntinho, sem que se possa ver quem vai dentro...

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